segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Marca Hispanica: Charme Francês I















Marca hispanica: E a França Fomos

Quando Carlos Magno conquistou esta região, no ido e obscuro século VIII (mais século menos século) chamou a esta região que engloba os Pirinéus de marca hispânica. Marca significava na altura região de fronteira, e era isso que os Pirineus eram: a fronteira entre o império carolíngio e os infiéis árabes que ocupavam agora, quase toda a península. A marca hispânica estava por isso pejada de fortalezas e castelos, e com o passar dos séculos com formação dos outros reinos ibéricos, até finalmente à formação da moderna Espanha continuou a ser uma região de fronteira. Castelos, fortes, vilas fortificadas abundam tanto deste lado como do outro e são uma presença constante desde o mar até ao mais alto dos cumes e escondido dos vales, guerras constantes até ao século XIX dividiram a marca que apesar de tudo tem os restos de uma identidade comum…
Bom, mais um dia de sol, a promessa de ir a França estava feita há muito, no entanto, saímos apenas com destino a Portbou, a ultima praia da Catalunha Espanhola ( a França também tem a sua Catalunha)… A tarde estava magnifica, uns 20º estavam marcados e lá fomos nós pelas estradas costeiras entre curvas e contra curvas até finalmente chegarmos a Portbou. De longe parece um postal, encravado no meio de altas montanhas a cidade desce até tocar no mar.
Decidimos seguir, e entrar em França. Foi assim de repente, não existia uma linha, apenas a placa com a bandeira da U.E. e no meio escrito França (em Francês e Catalão). Ao inicio a estrada continuava a beira mar e serpenteava pelas colinas seguindo as linhas de relevo. Olhámos o mapa e elegemos a cidade de Collioure como destino (o nome era interessante, a distância razoável e era a ultima de uma serie de povoados encravados entre os pirineus costeiros e o mar.
Uma cidade que já foi duas, dois castelos e um forte. Muitas ruas estreitas, um porto de pescadores, 3 praias e uma igreja deitada na água… sim muito curioso. E sim sem duvida, muito francês. A vila transpirava charme, e estava cheia de gente. Domingueiros passeavam pelas ruas, e os cafés e bares estavam cheios. Um contraste interessante tendo em conta que do lado espanhol não se via vivalma e tudo estava fechado. E lá fomos nos à descoberta. Caminhámos ao entardecer, o sol punha-se, mas ainda dava para tirar alguns postais com a câmara digital. E claro deu a fome… encontramos um restaurante ao pé da igreja, e obviamente petiscamos alguma coisa da suposta gastronomia acompanhamos com um vinho da região: delicioso, doce e leve… E leves saímos para caminhar mais um pouco antes de regressarmos. O entardecer esvaziou a vila e encheu-a de magia, as luzes laranjas, o som do mar e o do silencio dos homens e das suas construções acompanhou-nos e levou-nos por fim, de volta ao carro. Era tempo de regressar ao outro lado da Marca.

Caminhos de celtiberos

Estava sol e fazia frio. Um daqueles dias típicos dos Invernos mediterrânicos.

Saímos de casa e fizemo-nos à estrada. Destino, praia de “La Fosca”. Aparentemente havia um caminho pedestre mesmo à beira mar, que nos levava por calas e praias desertas até umas ruínas de um povoado ibérico, habitado pelos nossos antepassados celtiberos.
O povoado estava praticamente deserto, alguns pedestres e ciclistas, e não muito mais. Ouviam-se os pássaros, as rolas e o vento nas arvores e sebes, e via-se aqui e ali um ou outro gato…preto. Os apartamentos, casas de férias, como de costume desertos. É a sina das estâncias balneares no inverno, 6 meses de bulício e outros seis de suplício deserto.
O caminho rapidamente nos levou para longe da praia deserta, e pelas falésias cheias de pinheiros mansos e carvalhos (sim é estranho, mas o mediterrâneo aqui é um lago) alcançamos uma primeira baia. Uma pequena aldeia de pescadores que só é usada no verão, marcava a sua presença. Pequenas barracas coloridas de pedra com varandas, numa única rua viradas para o mar, numa praia de pedras. O aglomerado estava deserto, mas com o sol o branco das casas resplandecia e os pequenos pátios convidavam a parar e a apreciar a paz e a quietude. Uma vila encantada dizia-se…


O caminho, contudo, continuava e rapidamente nos conduziu até uma outra baia. Uma praia com um grande areal, um mar azul tranquilo espelhava-se diante de nós. A meio da praia um ribeiro adormecia e entregava-se ao mar… mas caprichosamente apenas na maré alta. Graças a isso, quando olhávamos para o interior observavam-se os primeiros caniçais, e mais adiante um pequeno paul. O caminho levava-nos para fora da praia e conduzia a um monte. Nesse monte a coroa-lo estavam as ruínas. Os nossos antepassados escolheram bem o sítio. O monte é nada mais nada menos que uma pequena península, cujo istmo está a 70 metros de altura e despenha-se em duas pequenas “calas” (uma a norte e outra a sul), assim o único ponto de acesso é pela quase ponte, bom para a defesa. A proximidade do paul e de um ribeiro fornecia agua, peixe e terra… inteligentes os tipos.
A partir daqui, o caminho continuava sempre ao lado do mar, agora subíamos e descíamos colinas que se despenhavam no mar e formavam as calas (praias minúsculas), sempre acompanhados pelos pinheiros e carvalhos. O mar azul e calmo ouvia-se mais no topo do que lá em baixo, uma nuvem tapou o sol e reparámos que as sombras estavam mais longas, era tempo de regressar. O caminho continuava, adivinhamos que até quase França e a França fomos…